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Desinformação ambiental: o que a pandemia de COVID-19 deixa de lição para a crise climática

A desinformação relacionada à ciência é atualmente uma das grandes preocupações da sociedade contemporânea e os desafios para enfrentar este problema tornaram-se patentes após o mundo experienciar uma crise sanitária de proporções extraordinárias.

Durante este período, tivemos contato com notícias de procedência e conteúdo duvidosos, promessas de remédios ou soluções milagrosas, além de movimentos antivacina e anticiência circulando no ambiente online. Neste contexto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu a desinformação que circula em meio à pandemia COVID-19 como uma “infodemia massiva”, sendo um dos principais motores de propagação da doença.


As motivações para a desinformação são diversas, tais como ganhar dinheiro, obter vantagem política, minar a confiança, transferir a culpa, polarizar as pessoas e prejudicar respostas às crises.? Este cenário nos leva a pensar: quais seriam as próximas “vítimas” científicas dos processos de desinformação?


Um relatório publicado pela Royal Swedish Academy of Science indica que será muito difícil levar adiante medidas que visem a promover um planeta mais sustentável e resiliente, reduzindo as emissões de combustíveis fósseis e atividades predatórias. Além disso, as agendas ambientais continuarão sendo alvo de ataques direcionados nas redes sociais e em outros meios de comunicação. Notícias falsas e informações enganosas sobre as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade estão tendo um impacto preocupante na batalha para conter as crescentes ameaças ambientais ao planeta.


No caso do Brasil, está ocorrendo uma intensificação da desinformação ambiental e atualmente há uma gama de formatos para este fenômeno, que vão desde construção de narrativas mais esdrúxulas e memes, imagens e vídeos fraudulentos, alterados, fabricados ou descontextualizados até retóricas muito bem construídas em cima de números e pesquisas enviesadas e tiradas de contexto. Essas narrativas muitas vezes são propagadas pelos próprios atores governamentais, o que torna o desafio de combater a desinformação ainda mais complexo.


Os discursos e ideias enganosas que permeiam o Brasil costumam seguir alguns mitos frequentes, presentes em outras partes do mundo, mas também possuem suas especificidades, atreladas ao contexto local. Ideias errôneas comumente propagadas em outras partes do mundo, como a de que o aquecimento global é um processo natural, não influenciado pelo homem, e que esta agenda teria sido invenção de grupos ideológicos específicos, também podem ser verificadas no Brasil. No entanto, em um país cuja economia está fortemente baseada no agronegócio, com grupos de interesse particularmente incisivos, são elencados diversos argumentos enganosos que dizem respeito a este setor ser sustentável, assim como muita informação falsa em torno dos processos de desmatamento da Amazônia e dos povos originários.


Com o fim da Conferência das Partes pelo Clima em Glasgow (COP26), ficou ainda mais explícito que atualmente, quando as discussões em torno da emergência climática ganham maior notoriedade, há um esforço contrário, vindo de grupos que não têm apreço pela agenda ambientalista, em propagar desinformação por meio das redes sociais.


Nas últimas semanas circularam diversas mensagens que isentam a responsabilidade do Brasil de lidar com as mudanças climáticas, o desmatamento da Amazônia, a proteção aos povos indígenas, entre outros fenômenos. Inclusive, muitas mensagens falsas atacando diretamente participantes da COP26, como a representante indígena Txai Suruí e até mesmo a jovem ativista sueca Greta Thumberg, se intensificaram, num claro esforço de deslegitimar as pessoas que lutam pela justiça climática.


Diante deste cenário, pode-se imaginar que com o passar dos anos e agravamento das consequências geradas pela mudança do clima, os esforços para desinformar a população a respeito deste problema passarão a ser cada vez mais frequentes, tal qual ocorreu com a COVID-19.


Logo, é preciso que a sociedade esteja engajada para combater os fenômenos de desinformação e notícias falsas. Mas como começar a trabalhar este engajamento?


É impossível pensarmos em combater a desinformação ambiental sem pensar em educação e, de fato, esse é o primeiro ponto que o Brasil precisa com urgência levar a sério. Os educadores têm um papel estratégico e decisivo na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar, qualificando os alunos para um posicionamento crítico face à crise socioambiental.


Além da educação ambiental, apesar do acesso à internet ter crescido nos últimos anos, há ainda um grande trabalho de educação midiática que se faz urgente. Ensinar a população a identificar uma notícia falsa ou tendenciosa é fundamental para o plena exercício da cidadania. Neste sentido, alguns materiais já disponíveis para a sociedade como a Cartilha de Segurança para Internet do Comitê Gestor da Internet que aborda, entre outros temas, o cuidado com boatos e mensagens, ou Manual das Teorias da Conspiração de Lewandowsky e Cook são exemplos de ferramentas que, no curto prazo, se popularizadas e comunicadas de maneira direta e clara, podem ajudar as pessoas a identificarem melhor o conteúdo que acessam.


Ademais, as agências de fact-checking também são boas aliadas e, a inserção desses verificadores em modelos de comunicação atuais, como aplicativos de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos, pode fazer com que esse tipo de conteúdo seja propagado de maneira mais eficaz. Especificamente para o combate a desinformação ambiental, em 2020, organizações e sites ambientais e científicos se uniram e criaram a primeira plataforma de checagem de informações e de combate a fake news e falácias relacionadas ao meio ambiente no Brasil: o Fakebook.eco, mais um tipo plataforma que pode ser de grande utilidade.


Por fim, para combater qualquer tipo de processo desinformativo é imprescindível que haja avanços em relação à legislação e à regulamentação dos espaços digitais, mas, enquanto essas discussões avançam, é possível que a sociedade civil trabalhe em outras frentes para mitigar o problema. Quanto mais tempo demorar para combater a desinformação ambiental, mais esses discursos errôneos vão tomar espaço e influenciar a opinião pública. Como diria a filósofa Hannah Arendt em sua obra “Verdade e Política”, “o resultado de uma substituição coerente e total da verdade dos fatos por mentiras não é passarem estas a serem aceitas como verdade, e a verdade ser difamada como mentira, porém um processo de destruição do sentido mediante o qual nos orientamos no mundo real.” A crise climática já não permite que a sociedade aguarde mais e que seja orientada por lógicas espúrias e falaciosas.




Referências:





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