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Pandemia de Covid-19: a saída é pelo ambientalismo

Por que preservar o meio ambiente é essencial para nos poupar de novas pandemias — ou de um futuro que não queremos?


Em 12 de maio, durante a live “clima e mundo pós-pandemia: como será o amanhã”, o climatologista Carlos Nobre afirmou que a ciência não conseguiu explicar claramente como a Amazônia ainda não desencadeou uma grande epidemia: “é pura sorte, porque os elementos estão lá. Estamos brincando com fogo!”. Nobre não está sozinho. Outros cientistas também fazem o mesmo alerta, como Paulo Artaxo, que diz ser:


“só uma questão de tempo para que outra pandemia como esta entre em contato com a gente. Sem ir longe, na Floresta Amazônica, existem milhares de vírus como este, escondidos. Eles estão em equilíbrio com o ecossistema. Se nós o desequilibramos com o desmatamento, a chance de eles se propagarem aumenta muito”;


E também David Lapola, afirmando que a intervenção humana em matas nativas pode gerar desequilíbrio ecológico e exportar doenças do coração da floresta:


“com a devastação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil. (…) A Amazônia é um potão de vírus e ao devastá-la, colocamos à prova nossa própria sorte”.


A tese não é apenas de cientistas brasileiros. Alguns estudos na Rússia, França e Estados Unidos apontam para um problema semelhante: o derretimento de geleiras está levando ao ressurgimento de doenças até então “adormecidas”.


Para citar apenas um caso desses estudos, em agosto de 2016, em uma região remota da Sibéria, um garoto de 12 anos morreu e pelo menos 20 pessoas foram hospitalizadas após terem sido infectadas por antraz, uma rara doença bacteriana. A teoria é que uma rena infectada com antraz morreu há mais de 75 anos e sua carcaça congelada ficou presa sob uma camada de solo também congelado, até que uma onda de calor, no verão de 2016, derreteu o solo. Isso expôs a carcaça da rena infectada e liberou o vírus para a água, solo e, consequentemente, para os alimentos.


Assim, segundo Carlos Nobre, precisamos restaurar o equilíbrio ecológico e mudar o comportamento humano, uma vez que a pandemia de Covid-19 ensina que é necessário tomar cuidado com a perturbação causada ao equilíbrio do planeta.

“Aproveite o momento: a chance para achatar a curva climática” — The Economist (2020).


A capa da revista britânica The Economist de maio deste ano, por sua vez, aponta para uma nova oportunidade de enfrentarmos as mudanças climáticas:


“Na primeira semana de abril de 2020, as emissões diárias de gases de efeito estufa em todo o mundo estavam 17% abaixo do que eram no ano passado. A Agência Internacional de Energia espera que as emissões industriais globais sejam cerca de 8% menores em 2020 do que em 2019, a maior queda anual desde a segunda guerra mundial.”


Mas esses números apontam para uma verdade difícil; que o planeta ainda precisará de mais de 90% de descarbonização para conseguir chegar ao objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris, ou seja, um clima de no máximo 1,5°C mais quente do que era antes da Revolução Industrial. A pandemia, então, revela o tamanho do desafio à frente!


Os danos das mudanças climáticas serão mais lentos do que os da pandemia, mas mais massivos e duradouros. “Se existe um momento para os líderes demonstrarem coragem ao enfrentar esse desastre, é este! Eles nunca terão um público mais atento”.


Então, por que não aproveitamos para decrescer?

Ao invés de voltarmos ao trabalho em tempo integral, e se decidíssemos trabalhar menos, comprar menos, ganhar menos e lutar para não aumentar o PIB a qualquer custo?


"Parece errado não tentar recuperar a economia de volta para onde estava e mantê-la crescendo? Somente se você não reconhecer as maneiras como isso falhou e como esse crescimento não estava beneficiando a maioria das pessoas. Em 1965, CEOs ganharam 20 vezes mais do que os trabalhadores típicos, mas a partir de 2013, eles fizeram 296 vezes esse valor. De 1973 a 2013, os salários por hora aumentaram apenas 9%, mas a produtividade aumentou 74%. Apesar da crise econômica provocada pela pandemia, as bolsas de valores estão se recuperando e o mundo está prestes a ganhar seu primeiro trilionário."


A economia já não vinha dando certo antes mesmo de ouvirmos a palavra “Covid-19”.

O crescimento pelo crescimento torna-se o objetivo primordial, senão o único da vida na sociedade capitalista, o que acarreta uma degradação progressiva do ambiente e dos recursos globais. Mas de que adianta esse crescimento? Para quem é bom? Por que devemos lutar para recuperá-lo, quando a alternativa poderia ser uma solução real para a crise climática?


Os diversos estudos que lançam previsões ao nosso futuro caso nenhuma medida de contenção e adaptação explicam que o mundo ficará preso em uma “terra de estufa”, onde 35% da área terrestre global e 55% da população mundial estarão sujeitos a mais de 20 dias por ano de “condições letais de calor”.

Os ecossistemas entrarão em colapso, incluindo os recifes de corais, a Floresta Amazônica e o Ártico. A América do Norte, por exemplo, sofrerá incêndios devastadores, ondas de calor e secas, e na Ásia grandes rios serão severamente reduzidos, assim como a disponibilidade de água em todo o mundo, afetando cerca de 2 bilhões de pessoas. Enquanto isso, na América Central, as chuvas diminuirão pela metade e a agricultura não será viável nos subtrópicos secos. Condições semipermanentes do El Niño prevalecerão e ondas de calor mortais persistirão em algumas áreas por mais de 100 dias por ano — 1 bilhão de pessoas precisarão se mudar desses locais.

Suponho que este não é o futuro que queremos…

Uma das coisas que a Covid-19 nos lembra é que somos parte da natureza. Não estamos separados dela, nem acima dela. Somos animais! Também nos lembra que há consequências quando perturbamos o equilíbrio ecológico: devemos tomar uma atitude e agir para reduzir nosso impacto sobre o meio ambiente e nosso consumo.


Recentemente, um grupo de mais de mil especialistas assinou uma carta propondo diretrizes para uma recuperação da economia com foco no clima, saúde e bem-estar, em vez de crescimento. As dificuldades econômicas que estamos enfrentando atualmente podem ser vistas como uma abertura para experimentar políticas mais progressistas que garantam às pessoas acesso ao que precisam, como renda universal ou assistência médica.


Enquanto tivermos um sistema econômico dependente do crescimento, uma recessão será devastadora. Portanto, o que o mundo precisa é de decrescimento — planejado, porém adaptável, sustentável e equitativo da economia, levando a um futuro em que possamos viver melhor com menos.


Artigo escrito por:

Luis Fernando Macedo Iglesias, graduado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mobilidade acadêmica na Universidad de Deusto, em Bilbao (Espanha), e cujo trabalho de conclusão de curso foi sobre "conflitos socioambientais na América Latina em perspectiva transnacional". Pesquisador no EmpoderaClima, associado ao Instituto Socioambiental (ISA), membro do Youth Climate Leaders (YCL) e voluntário na União Amazônia Viva. Esporadicamente, escreve no https://medium.com/@luisiglesias

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